O Nordeste brasileiro receberá nos próximos anos uma injeção enorme de recursos com investimentos em parques geradores de energia limpa. As empresas que acreditam no potencial energético da região, e aplicam bilhões de reais na construção de plantas renováveis, são sempre indagadas a respeito do aproveitamento da mão de obra local e sobre a qualidade de entrega da cadeia de fornecedores. Teria o Nordeste capacidade de suprir esses dois gargalos para o desenvolvimento da transição energética no País?
Posso responder a questão pelo ponto de vista da empresa em que atuo e que vem implantando dois parques solares de 738 MW nos estados do Ceará e Piauí. Também estamos lançando mais 300 MW de parques eólicos na região de Touros, entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba. Além de dois parques eólicos de 58 MW que já administramos no RN desde 2016, temos hoje mais de 2 GW no pipeline eólico na Região Nordeste.
Em todos esses projetos vemos que a mão de obra local está bem madura e qualificada para a instalação de quase a totalidade de nossos parques. Esse cenário positivo é fruto de parcerias com municípios, estados e governo federal através do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Temos nos Estados faculdades dedicadas aos sistemas fotovoltaicos e também aquelas focadas no conhecimento da energia eólica. O que observamos não é apenas a possibilidade de orientar e preparar técnicos locais, mas efetivamente ter trabalhadores especializados e treinados para o desenvolvimento de renováveis.
Tudo isso nos torna muito competitivos como país, especialmente agora neste momento de transição energética. E, na minha visão, a mão de obra não é um
gargalo. Vejo que existe um boom de projetos renováveis na Região e essa é exatamente a função da energia, trazer desenvolvimento econômico e social.
Em havendo falta de pessoal, buscamos implementar capacitações necessárias para a execução e gestão dos parques. Há recursos para isso e, claro, se não houver, ou for uma falha transitória, é possível trazer técnicos de outras regiões. A minha visão é a de que o papel de nosso setor, e de nossa indústria, é desenvolver as regiões, especialmente no aspecto de qualificação de pessoas. Sabemos que há profissionais disponíveis e basta desenvolvê-los quando o número não for suficiente.
Sobre a cadeia de fornecedores, verificamos que o Nordeste possui condições logísticas para comprarmos painéis, placas e todos os equipamentos da indústria renovável, tanto solar quanto eólica, de qualquer local do mundo. Em outras palavras, estamos numa posição geográfica e logística estratégica para adquirir os equipamentos mais competitivos do mundo para a indústria renovável.
Hoje, a nossa busca é por cotações globais, numa região que tem a logística necessária para receber e prover o desembaraço de forma eficiente. Por ora, somos competitivos e trazemos materiais do mundo inteiro porque a logística funciona bem.
No caso dos fornecedores de equipamentos solares, é possível que neste período haja novas indústrias se instalando na Região, assim como já aconteceu com a indústria eólica, com os players implementando operações locais. Creio que há interesse nacional em desenvolver essa indústria porque a cadeia da energia renovável está fazendo uma transição muito rápida. E, olhando para o futuro, para o papel das renováveis que também inclui a produção do hidrogênio verde – considerado o combustível do futuro – é possível imaginar que haverá a verticalização da indústria fornecedora na região nordeste também na cadeia fotovoltaica.
Pelo lado das geradoras de energia, o desafio é continuar crescendo com sustentabilidade e fazer aquisições com foco nas renováveis. Dessa forma, acreditamos que as melhores competidoras vão se sobressair e liderar a transição energética para uma economia de baixo carbono numa região rica de fontes eólica, solar e de mão de obra capacitada.