O que muda na rotina de economia, educação e meio ambiente com complexo eólico e solar instalado na Paraíba

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IFPB tem curso que forma para trabalhar nos parques; moradores das comunidades encontraram formas de empreender; MPF apura impactos ambientais

O primeiro complexo de geração associada de energia renovável no Brasil instalado no Sertão da Paraíba mudou não só a paisagem das quatro cidades onde estão os equipamentos, mas também a educação, a economia e o meio ambiente.

Curso voltado para a formação de profissionais aptos para trabalharem no complexo e geração de renda com negócios locais estão entre as mudanças verificadas na região, especialmente em Santa Luzia, São José do Sabugi, São Mamede e Areia de Baraúnas, por onde se espalham os aerogeradores e as placas solares.

Educação

O complexo de energia limpa está sediado em Santa Luzia, a cerca de 300 km de João Pessoa, onde o Instituto Federal da Paraíba (IFPB) oferta o Curso Técnico Subsequente em Sistemas de Energias Renováveis desde 2020.

Para a reitora do IFPB, Mary Roberta, o parque eólico é de grande relevância para o Instituto porque traz possibilidade de desenvolvimento para toda a Paraíba.

“E isso vai em cadeia, levando ações, tanto internas quanto externas, para o desenvolvimento do estado, sobretudo na nossa missão de ensino, pesquisa e extensão. São várias possibilidades que se abrem”, comenta Mary Roberta.

De acordo com o coordenador do Curso Técnico Subsequente em Sistemas de Energias Renováveis, Victor Andrade Lima Ferreira, a certificação dada pelo IFPB é de extrema importância para a comunidade, pois o curso habilita os alunos a contribuir com o desenvolvimento econômico da região.

“Além disso, a importância desse curso ofertado pelo IFPB se torna mais evidente após a recente construção desse parque híbrido eólico e solar do grupo Neoenergia. Ao longo desses últimos anos, há uma demanda crescente por profissionais qualificados nesse setor, e nosso curso oferece uma oportunidade valiosa para os alunos que desejam ingressar nesse mercado em expansão, contribuindo para o desenvolvimento da região e do País como um todo”, ressaltou Victor Andrade.

Ele acrescentou que existe uma demanda crescente por profissionais nessa área, e é um privilégio para Santa Luzia ter uma formação técnica de qualidade no epicentro regional das energias renováveis no estado.

“Com esse curso, o Campus Santa Luzia visa a formar o aluno, ofertando os fundamentos técnicos para que o estudante egresso entre no mercado de trabalho na própria região. Então isso é de extrema importância como estratégia educacional e melhor eficácia do investimento público, pois os alunos estão sendo formados para trabalhar aqui mesmo”, declarou.

Victor Andrade comentou ainda que, em 2022, os alunos que estavam cursando o último semestre do curso fizeram visitas técnicas aos empreendimentos do grupo Neonergia. Além disso, há ex-alunos do IFPB que fizeram o curso técnico em energias renováveis que estão trabalhando para empresas terceirizadas que prestam serviços ao Complexo Neonergia.

Voltado a quem já concluiu o ensino médio, o Curso Técnico Subsequente em Sistemas de Energias Renováveis ofertado pelo IFPB tem duração de dois anos e objetiva habilitar profissionais com competências em planejamento, execução e manutenção em elementos de sistemas de energia renovável. A cada ano, são oferecidas 80 vagas.

Após formado, o profissional estará apto a: realizar projeto, instalação, operação, montagem e manutenção de sistemas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica de fontes renováveis de energia; coordenar atividades de utilização e conservação de energia e fontes alternativas (energia eólica, solar e hidráulica); e seguir especificações técnicas e de segurança.

O profissional certificado pelo IFPB também estará habilitado a realizar montagem de projetos de viabilidade de geração de energia elétrica proveniente de fonte eólica, solar e hidráulica em substituição às convencionais; aplicar medidas para o uso eficiente da energia elétrica; desenvolver novas formas produtivas voltadas para a geração de energias renováveis e eficiência energética; identificar problemas de gestão energética e ambiental; e projetar soluções para questões decorrentes da geração, transmissão e distribuição da energia.

O Complexo Renovável Neoenergia informou que foram realizadas mais de 680 horas de aulas de capacitação, em que foram treinadas cerca de 180 pessoas como pedreiro, carpinteiro e ferreiro.

Outras 150 pessoas também foram formadas em cursos de montador de estruturas metálicas de placas solares. Essas iniciativas ampliam as oportunidades de inserção no mercado de trabalho aos moradores.

O Instituto Neoenergia e a Agência de Desenvolvimento Econômico Local (Adel) são responsáveis pelo Programa SER, com ações em 14 comunidades da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Desde 2020, o programa atendeu 775 famílias, ou mais de 3 mil pessoas.

Segundo a empresa, a iniciativa atua em pilares que impactam diretamente no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) das regiões envolvidas, atendendo aos três eixos do Índice e que também representam a sigla do projeto: Saúde, Educação e Renda (SER).

Economia

Dos mais de 3,6 mil empregos diretos e indiretos criados desde a construção dos parques e da linha de transmissão, 40% foram de mão de obra local.

Os equipamentos também mudaram a rotina de pequenos negócios nas comunidades onde foram instalados ou trouxeram novas oportunidades para quem desejava empreender.

Assista abaixo a um vídeo com quatro minutos que mostra, em resumo, como o complexo alterou a realidade de pessoas das comunidades onde estão instalados os parques de energia limpa.

O que é o complexo e como ele funciona

Localizado no Sertão da Paraíba, o Complexo Renovável Neoenergia integra de forma inédita a geração de energia eólica e solar de Neoenergia Chafariz e Neoenergia Luzia, respectivamente.

Os parques estão conectados ao Sistema Interligado Nacional (SIN) pela subestação Neoenergia Santa Luzia II​ e a respectiva linha de transmissão. O investimento total soma cerca de R$ 3,5 bilhões.

A energia gerada pelo Complexo Renovável Neoenergia é de 0,6 GigaWatts (GW), suficiente para abastecer 1,3 milhão de residências por ano.

O Complexo Renovável Neoenergia se estende por uma área arrendada de 8.700 hectares, em que somente 14% está ocupada, nos municípios de Santa Luiza, Areia de Baraúnas, São Jose de Sabugi e São Mamede, na Paraíba.

Formado por 15 parques eólicos e 136 aerogeradores, Neoenergia Chafariz atua com capacidade instalada de 471,2 MW, já em operação plena desde o início de 2022.

Já as duas plantas de Neoenergia Luzia, com 228 mil painéis e potência instalada de 149,2 MWp, marcam a estreia da companhia na geração fotovoltaica centralizada.

Pioneiro no país, o projeto destaca-se pela sinergia entre os ativos dos parques eólico e solar com a linha de transmissão e a subestação. Essa característica otimiza o uso da rede de transmissão em função da complementariedade das fontes.

“Com o Complexo Renovável Neoenergia, alcançamos 90% da capacidade instalada em energia limpa. Estamos preparados para atender os brasileiros com confiabilidade e segurança, tendo em vista a crescente demanda do mercado livre”, afirma o CEO da Neoenergia, Eduardo Capelastegui.

O executivo acrescentou que o empreendimento contou com financiamento de instituições nacionais e internacionais.

O que são usinas híbridas?

A Central Geradora Híbrida (UGH) é uma instalação para a produção de energia elétrica utilizando a combinação de mais de uma tecnologia, entre elas, eólica e solar, hidráulica e fotovoltaica, entre outras fontes integradas.

Para que seja considerado híbrido, o projeto deve ter uma única medição e uma única outorga, que é a autorização concedida pelo poder público para o projeto. No setor elétrico, o órgão responsável pela concessão para as empresas de geração é a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

O que são usinas associadas?

As centrais geradoras associadas também integram duas ou mais fontes de energia, mas a diferença entre elas e as usinas híbridas está na outorga e na medição, que serão necessariamente distintas. As associadas obrigatoriamente compartilham a infraestrutura de conexão ao sistema elétrico de transmissão.

Para projetos se associarem estes devem, obrigatoriamente, serem de fontes distintas. Todavia, não há ordem estabelecida para a entrada em operação comercial ou para a obtenção da outorga.

Quaisquer dos projetos poderão já estar em operação, sem prejuízo de uma associação posterior com o outro parque, desde que atendidos certos condicionantes, quais sejam: o parque que pretende se associar ao outro existente não poderá ter Contratos de Uso do Sistema de Transmissão (CUST) assinado e, deverá compartilhar as instalações de uso restrito de transmissão de forma que o ponto de conexão ao sistema de transmissão seja único.

Impactos ambientais

O funcionamento dos parques associados só foi possível após permissões concedidas à Neoenergia pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente na Paraíba (Sudema). Mesmo assim, o Ministério Público Federal na Paraíba (MPF) apura os impactos ambientais nos locais onde os equipamentos foram instalados.

O MPF investiga desmatamento, rachaduras em paredes de casas e de cisternas causadas por explosões e pelo transporte por caminhões das gigantescas estruturas das usinas eólicas, comunidades rurais afetadas pela fuga de famílias para a zona urbana, danos à saúde decorrentes do barulho das torres e risco de dano a sítios arqueológicos.

Segundo a empresa, o complexo pode evitar a emissão de mais de 100 mil toneladas de gás carbônico (CO2) por ano. O volume evitado equivale aproximadamente às emissões de uma cidade como Campina Grande, que tem cerca 95 mil automóveis, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

​“O crescimento em Renováveis acompanha a transformação energética, mantendo as melhores práticas ESG, gerando valor para a sociedade e os acionistas e contribuindo de forma responsável para o desenvolvimento sustentável nas regiões onde a companhia atua”, afirmou a diretora-executiva de Renováveis da Neoenergia, Laura Porto.

Em uma das áreas dos parques, a especialista em Biologia, Vanessa Silva, explicou que a empresa está replantando vegetação nativa da região, onde 70 mil mudas já teriam sido plantadas, como uma das formas de reduzir impactos ambientais com a instalação dos equipamentos. O objetivo é providenciar o plantio de 100 mil mudas.

A especialista disse no local que a Neoenergia monitora o grau de ruídos produzidos pelas torres, que podem ser prejudiciais aos moradores das comunidades e aos animais da região. Segundo ela, a distância entre as torres é de, no mínimo, 400 metros, que seriam para reduzir os impactos nas áreas onde estão posicionadas.

Uma trilha ecológica montada em uma parte da estrutura dos parques, na Zona Rural de Santa Luzia, mostra os principais tipos de vegetação encontrados na região, onde predomina a caatinga. A estrutura natural e sinalizada ilustra o que é normalmente verificado no solo e na flora daquela área e que seriam preservados pela Neonergia, com medidas de redução dos impactos ambientais adotadas pela empresa na região.

O que fez o poder público

Os governos federal e estadual não tiveram nenhuma participação financeira nos projetos, mesmo que o lançamento dos parques tenham contado com as presenças do governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), e do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

João Azevêdo explicou que cabe ao governo federal fazer a regulação da exploração de energias eólica e solar. Segundo ele, ao Estado, coube oferecer para a Neoenergia a isenção total do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e a redução de burocracia para concessão de licenças ambientais, por meio da Sudema.

O governador disse ainda que o Estado foi responsável por oferecer estrutura para a instalação dos parques, como a construção de estradas e acessos nas áreas rurais das quatro cidades onde os equipamentos foram posicionados.

 

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