São apurados crimes como peculato, improbidade administrativa e caixa dois; caso também chegou ao Supremo Tribunal Federal
O suposto esquema de rachadinha no gabinete do deputado federal André Janones (Avante-MG) está na mira da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República (PGR) e do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Na última sexta-feira (1º) o caso também chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), que recebeu da PGR um pedido de abertura de inquérito sobre as práticas. As informações são do R7, parceiro nacional do Portal Correio.
São apurados crimes como peculato, improbidade administrativa e caixa dois, e há análise de pedidos de cassação do mandato.
Janones é alvo de denúncias por rachadinha desde 2021, acusado por Fabricio Pereira, um ex-assessor do parlamentar. O processo corre em sigilo, mas, em conversa com o R7, o ex-assessor afirmou que o esquema envolvia diversos funcionários do gabinete do deputado mineiro.
Na denúncia, está anexado um áudio (ouça abaixo) em que Fabricio conversa com outro ex-assessor de Janones, que alega precisar repassar quase R$ 5.000 do próprio salário, mensalmente, ao suposto esquema de rachadinha no gabinete do parlamentar. A verba seria usada para cobrir um rombo de R$ 675 mil nas contas pessoais do político (entenda mais abaixo).
Segundo a PGR, os fatos são graves, não descartando a possibilidade de o deputado ter exigido vantagens econômicas ilegais dos assessores e ex-assessores como condição para manter os cargos em comissão em seu gabinete.
A PGR afirma ainda que os eventos demandam uma investigação mais aprofundada, o que justifica a deflagração de uma fase investigatória para coletar elementos para identificar condutas potencialmente ilegais, identificar circunstâncias delituosas, revelar possíveis coautores e, eventualmente, evidenciar a prática de outras infrações penais.
Assim que o caso foi divulgado pela imprensa, parlamentares da oposição apresentaram uma notícia-crime contra Janones, protocolada na PGR na última terça (28), com pedido de encaminhamento ao Ministério Público Federal, para investigar a prática de improbidade administrativa e peculato, caracterizado pela apropriação indevida de recursos por um agente público.
Na Câmara dos Deputados, membros da oposição iniciaram um movimento pela cassação do mandato de Janones, que teve o pedido protocolado na última quarta (29) pelo Partido Liberal (PL). Para o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, Janones violou o decoro parlamentar e é “inaceitável” um deputado utilizar recursos públicos para benefício pessoal.
Entenda
De acordo com um áudio anexado ao processo, a verba da rachadinha seria usada para cobrir um rombo de R$ 675 mil nas contas pessoais do político, que afirma ter precisado vender casa e carro e usado o dinheiro da poupança e da previdência privada para bancar a corrida eleitoral.
Na conversa com a equipe, após declarar a intenção de obter parte do salário dos assessores para fins pessoais, Janones reafirma que não admitirá cargos-fantasma. O deputado diz ainda não temer a perda de mandato.
Se eu tiver que ser colocado contra a parede, não estou fazendo nenhuma questão desse mandato. Para mim, hoje, renunciar é uma coisa tão natural.
Segundo Janones, esse esquema seria “justo”. A gravação é de 5 de fevereiro de 2019 e foi feita pelo jornalista Cefas Luiz durante a primeira reunião depois que os funcionários tomaram posse.
Cefas disse ao R7 que “o esquema rodou no gabinete e era mensal”. Ele afirmou também que levaria o material ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Janones nega
Janones nega ter cometido rachadinha e afirma que a gravação foi “clandestina e criminosa” e que se trata de um “áudio retirado de contexto e para tentar imputar [a ele] um crime” que ele “jamais” cometeu.
“Essas denúncias vazias nunca se tornaram uma ação penal ou qualquer processo, por não haver materialidade. Não são verdade, e sim escândalos fabricados”, completa.
Na última sexta (1º), após a PGR enviar o pedido de abertura de inquérito ao STF, a assessoria de imprensa de Janones disse que trabalha para abdicar dos sigilos fiscais, bancários e telefônicos dele para acelerar a investigação. “Foi a primeira notícia positiva até agora desde que isso começou”, afirmou, em nota.